Nova droga abre debate para controle de cães

Injeção que torna os cães machos inférteis foi apresentada esta semana em São Paulo. Desenvolvido por veterinários da Universidade de São Paulo (USP), a eficácia do remédio que dispensa a cirurgia tradicional, sem efeitos colaterais, ainda está sendo testada.

Esterilização química substitui a cirurgia tradicional.

Uma injeção que torna os cães machos inférteis foi apresentada na terça-feira a autoridades públicas, veterinários e dirigentes de organizações não-governamentais (ONGs). O produto é uma novidade na área de controle da reprodução de cães e não tem similar no mercado nacional.

O Infertile, nome do esterilizador químico, foi desenvolvido no Brasil por iniciativa da norte-americana Debbie Hirst, fundadora do Centro de Planejamento de Natalidade Animal (CPNA), com sede em Interlagos. Ela é conhecida entre os protetores de animais por suas preocupações com o aumento descontrolado da população de cães. A superpopulação deve ser vista como um problema de saúde pública e uma ameaça à qualidade de vida dos animais.

Nos últimos seis anos, dois pesquisadores brasileiros ligados à Universidade de São Paulo (USP), os veterinários Francisco Rafael Martins Soto e Wilson Gonçalves Viana, se dedicaram ao desenvolvimento do Infertile. Pertence a eles a patente registrada em dezembro de 2008 no Ministério da Agricultura. O produto será fabricado pela Rhobifarma e vendido pelo CPNA.

"Sempre tive o sonho de desenvolver um esterilizante químico para cães que fosse de baixo custo e fácil aplicação", disse Debbie, em entrevista ao Diário do Comércio. "O objetivo é permitir, de fato, o controle da população de cães."

Em São Paulo, ONGs calculam que haja cerca de 1,5 milhão de cães vivendo nas ruas da cidade. O número é alarmante, pois os animais precisam de cuidados e vacinas para não transmitirem doenças graves, como a raiva. Além disso, eles podem provocar acidentes de trânsito.

Abandono – É cada vez mais comum ninhadas serem abandonadas em vias públicas. Há duas semanas, o motorista da clínica veterinária Fido, na zona sul, encontrou diante de sua residência filhotes abandonados com um dia de vida.

Por tudo isso, o lançamento do produto foi concorrido. Estiveram lá o secretário municipal do Verde e Meio


Ambiente, Eduardo Jorge, o presidente do Conselho Regional de Medicina Veterinária de São Paulo, Francisco de Almeida, e o gerente do Centro de Controle de Zoonoses de São Paulo, Marco Antonio Vigilato.

Durante o evento, ficou claro que o controle da reprodução de cães é um assunto que está sendo amplamente debatido. "O produto parece ser uma solução simples e eficiente", disse Renato Neto, da ONG Natureza em Forma. "Mas o que preocupa é que não sabemos que efeitos colaterais poderão se manifestar nos animais, no futuro." Representantes da Coordenação de Vigilância em Saúde (Covisa) da Capital deixaram claro que somente após estudos próprios deverão se manifestar sobre a validade do produto.

"O Infertile não tem efeito colateral e seu princípio ativo é estudado há mais de trinta anos por cientistas de todo o mundo", defendeu o veterinário Soto. Há um similar fabricado nos Estados Unidos.

Soto reconheceu, porém, que a aplicação de apenas uma dose num grupo de cães garante a esterilização de 72% dos animais e que, para se obter 100% de sucesso, é preciso uma segunda dose nos animais. Isso exige um sistema de marcação (um microchip, por exemplo) nos cachorros que custa dinheiro, observou o deputado estadual Feliciano Filho, autor da lei que proíbe a eutanásia em cães sadios no Estado de São Paulo.

Alternativa – "Estamos vendo hoje uma luz no fim do túnel", disse o prefeito de Ibiúna (SP), Darcy Pereira Leite, referindo-se ao fato de que o produto pode ser uma alternativa à castração convencional dos cães machos, que exige uma cirurgia e a extração dos testículos. Para a ambientalista Nina Rosa, presidente do instituto que leva seu nome, o esterilizante químico merece a aprovação dos protetores do melhor amigo do homem. "O produto vem atender nossas aspirações", afirmou.

Debbie conheceu o Brasil em 1998, quando veio trabalhar em um grande banco – ela é formada em economia. Hoje, vive em Paris. O comando do CPNA está com a veterinária Maria José Simões de Freitas. "A reprodução descontrolada de cães é um problema mundial e não só do Brasil", disse Maria José.

Os brasileiros são conhecidos por sua compaixão com os animais domésticos, apesar de tantos casos de maus-tratos e abandono. Ontem, no Centro, o carroceiro José Antônio Horácio Mendes mostrava que vai longe a ligação das pessoas com seus cães. Ele encontrou pelas ruas Princesa, Duque, Tigre, Pelé e Cartucho. São mais do que amigos. "São a minha família", disse. Apenas Cartucho e Princesa são castrados.

Ricardo Osman - 4/3/2009 - 22h16

Newton Santos/Hype